Em entrevista, à revista Comunhão, Paulo Oliveira faz um panorama sobre relações familiares e cenário econômico em meio a pandemia.
Portanto veremos nessa primeira parte esse panorama bíblico que o Pastor Paulo Oliveira faz sobre o relacionamento familiar nesse novo tempo que estamos vivendo.
“Toda crise é ruim para quem é grande, mas pode ser muito boa para quem é pequeno”
Paulo Oliveira
A crise socioeconômica agravada pela pandemia provocada pelo novo coronavírus é uma realidade que, por mais que muitos tentem amenizar e até esconder, não há como se desconsiderar. A vida cotidiana foi drasticamente alterada, o medo do sofrimento e da morte foi potencializado, a lógica do mercado e do capital que rege políticas foi posta à prova com altas demonstrações de fracasso. Nesse contexto, as igrejas estiveram no centro de discussões. Enquanto medidas sanitárias orientavam o isolamento social para preservação de vidas, emergiu a questão sobre se os templos deveriam continuar com suas atividades presenciais. E foi isso que aconteceu! Um novo cenário, que trouxe interferências na economia mundial e na sociedade e novos posicionamentos para a família.
Paulo Oliveira, pastor da Igreja Cristã da Família, em São Paulo, consultor de grandes empresas que querem se reposicionar no mercado e presidente do Instituto Renovo – uma instituição de valores cristãos, com objetivo de contribuir no desenvolvimento de projetos sociais pelo Brasil –, disse “que a crise pode ser boa para quem é pequeno”. E ele fala com conhecimento econômico habilizado, pois atuou como vice-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), entre 2008 e 2010, e diretor do Bank of New York Brasil. Em entrevista à Comunhão, o líder ministerial e especialista comenta sobre o novo cenário que se desenhou e ressalta que a quarentena trouxe experiências fantásticas para educação e aproximação da família, entendendo que “não é possível retornar à realidade que todos viviam em janeiro. Essa mudança veio para ficar, mas nosso papel é entender e se adaptar ao novo que virá”. Confira!
Como um defensor da família e princípios cristãos, o senhor acha que a Covid-19 aproximou as famílias mais de Deus? Por quê?
Difícil não entender esta pandemia como um evento escatológico. Se olharmos do ponto de vista da saúde, apesar do impacto das mortes até agora, isso não caracterizaria a pandemia como algo apocalíptico na história da humanidade.
Mas, quando acrescentamos os efeitos da paralisação na economia mundial e, principalmente, nas vidas das pessoas e suas relações sociais, torna-se realmente escatológico. Apocalipse 22:11 fala de uma característica desses tempos do fim: aquele que é santo, santifique-se ainda; e aquele que é sujo, suje-se ainda. Famílias seguem esse mesmo padrão. Onde havia unidade e coesão, os relacionamentos se tornam mais fortes. Onde havia distanciamento e aparência, a epidemia escancarou a crise. E esta é a oportunidade perfeita para o cristianismo mostrar à sociedade o verdadeiro caminho para se aproximar de Deus, independentemente de ir ou não a uma reunião.
Muitas famílias ficaram sem renda. O que elas podem fazer para se manter enquanto não retornam ao mercado?
Existem duas maneiras de sair de uma crise financeira: aumentando as receitas e cortando os gastos. Esta crise, num primeiro momento, não nos deixa muitas alternativas de aumentar a receita (ainda que, num segundo momento, esta seja a maior característica positiva dela), mas com certeza nos permite cortar custos. Para mudar um hábito, é sempre importante mudar o ambiente em que vivemos. Esta quarentena nos oferece esta oportunidade: entender onde estávamos gastando nosso dinheiro e começar a disciplinar e planejar nossos custos. A principal atitude a tomar agora é tomar as rédeas de seu orçamento doméstico.
Podemos apontar pontos positivos deste isolamento para a convivência familiar? Quais?
Sim, o principal deles é o resgate da capacidade de relacionamento entre as gerações. Pais, filhos e irmãos de diferentes idades reaprendendo a conversar mais entre si, em torno de uma reunião familiar. Outro ponto importante é a compreensão do papel dos pais na educação dos filhos. Esta quarentena é a maior experiência de homeschooling que poderia acontecer e uma descoberta de um novo potencial para muitos pais. Por último, o valor do silêncio e da meditação, que nada mais são que o tempo a sós com Deus, mas pareciam ter sido sequestrados pelo esoterismo e voltaram a ser apreciados na vida devocional cristã. O acesso ao nosso aplicativo Bíblia JFA Offline cresceu 30% no primeiro mês da quarentena e segue em expansão.
Os números relacionados à violência doméstica e ao divórcio aumentaram nesta quarentena. O que fazer para evitar o colapso familiar pós-pandemia?
Se por um lado o santo se santifica, por outro o sujo se suja mais também. Se a leitura bíblica online cresceu 30%, também foi esse o aumento de acesso à pornografia. E isso, misturado à obrigação de um confinamento, por vezes em condições precárias de moradia, faz aumentar a violência, tanto física como sexual. E o papel da Igreja nunca foi tão relevante como agora! O colapso familiar só é evitado quando cada membro da família sabe e desempenha seu papel como cônjuge, pai, filho e irmão. E esse senso de identidade, propósito e missão só se completa em Deus.
Seria exagero pensar que Deus está mandando um recado para as famílias, como: “Voltem pra casa. Consertem-se com seus cônjuges, cuidem dos seus filhos. Parem com essa vida frenética e aprendam a depender de mim”?
Existe uma grande diferença entre castigo e consequência. O castigo existe para nos livrar da consequência. Quando uma criança não se aproxima da janela do prédio por medo do castigo, está justamente escapando da consequência da queda. Eu não acredito que Deus esteja mandando recados. Ele já mandou um claramente. A parábola do rico e Lázaro nos ensina isso! Esta pandemia nos mostra que não podemos extrapolar limites sem consequências. Desde a origem do vírus na China, até a construção desta interdependência econômica mundial, que precisa ser repensada agora.